quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

+Cultura Popular dos Livros Impopulares (?!)

Creio eu, e algumas pesquisas (se bem lembro) comprovam o que digo, que nos dias de hoje se lê mais do que há uns anos atrás e menos do que há tempos mais passados (na época em que a tv ou não habitava na imaginação humana ou era prazer de poucos). O fato é que ainda existem muitas pessoas que não lêem com freqüência. Na verdade até lêem se pudermos chamar de leitura o jornal, revistas, sites de esporte ou de moda e profiles de orkut´s alheios. Porém a leitura a que me refiro aqui é a de LIVROS especialmente.

Quando eu era criança era uma raridade um jovem gostar de ler e me lembro das inúmeras críticas que os adultos faziam a nossa geração do vídeo game que achava “um porre” ler livros, quando se tinha acesso a filmes de locadora e cinema em toda esquina. Pra que ler?! Logo vão lançar um filme!!!

Hoje em dia esse lance de leitura é algo mais do que plausível e todo jovem bem aventurado lê. Isso deixou de ser coisa de gente velha e passou a ser coisa de gente inteligente, de pessoas cultas e o mais importante é q o “inteligente” e “culta” não são sinônimos de “NERDS” . São exatamente o que são: inteligentes e cultas.

Eu concordo até certo ponto com essa afirmação, mas, pensando bem, a premissa de que toda pessoa que tem o hábito de ler é inteligente, pode levar à segunda premissa de que só quem lê é inteligente e essa conclusão é, pra mim, falsa. E não necessariamente todos aqueles que se atolam em livros são inteligentes, afinal existem os mais diversos tipos de literatura. E acho que podemos concordar de que ler livros de piada ou contos eróticos não deve tornar alguém um ser mais extraordinário, né?!

Seguindo a linha de raciocínio, sou levada a acreditar que a leitura não transforma pessoas em seres pensantes. Mas pessoas pensantes é que fazem do livro uma janela para novas concepções. E esse é o grande lance do livro!!! De nada adianta uma mente fechada engolir cada palavra de um texto de 300 páginas se ele não tem ou não quer transformá-las em algo com sentido para ele próprio. Não basta ler, deve-se entender as entrelinhas. Deve-se tirar o subentendido da narrativa e trazê-lo a sua realidade, ao seu entendimento, e criar em si mesmo questionamentos e, por fim, criar suas próprias verdades (leia-se: idéias, filosofia, aquilo que julga ser correto).

Vendo por esse ponto, me ocorreu que se assim for, não é preciso ler LIVROS. Uma pessoa inteligente vai tirar lições de qualquer passagem que leia. Qualquer frase, qualquer palavra colocada numa situação qualquer. E acredito ainda que para ser inteligente não é necessário ser abençoado pelas forças divinas ou pela genética. É preciso querer. É preciso se abrir aos questionamentos mais improváveis e se permitir tirar deles conclusões mais improváveis ainda.

***

O assunto me surgiu por conta de um fato extraordinário que me aconteceu ontem. Eu que nunca fui da turma da leitura (não a de livros pelo menos), entrei numa livraria disposta a comprar um livro e fazer o que não fazia há anos: LER. (a não ser livros acadêmicos e revistas, jornais, sites de esporte e de moda além de profiles de orkuts alheios). Fui com a idéia inicial de procurar livros da Fernanda Young após ler uma entrevista numa revista e perceber nela alguma compatibilidade.

Quando cheguei na livraria, dei uma passeada pelos corredores e enquanto olhava os mais diversos títulos (dos mais famosos aos mais “underground”) me deparei com alguns que me chamaram a atenção. Segurei o primeiro e quando achei um segundo que me interessava fiquei em dúvida sobre qual me atraía mais e portanto passei a segurar os dois. E nessa de não conseguir definir qual eu julgava que deveria ir pra casa comigo, formou-se uma pilha nos meus braços.

Quando percebi o peso já eram pra lá de 10 (fora aqueles que me interessei, mas julguei melhor deixar pra outra oportunidade). Aquele ocorrido me era tão inusitado, que até me espantei (eu sempre freqüento a livraria louca pra encontrar um livro que me encha os olhos, mas só de pensar na correria do dia-a-dia eu logo desisto da idéia; agora que estou de férias, foi mais fácil me conceder esse prazer).

Olhei os livros que estavam ali comigo e um ou outro eu consegui deixar na livraria, mas outros 5 tiveram que ir pra minha casa. Gastei 140 reais em livros!!! Sendo que os últimos que havia comprado eu nunca passei da vigésima página!

Alguma coisa em mim era diferente e por isso arrisquei levar o prejuízo. Cheguei em casa e mostrei para minha mãe as compras que fiz. A primeira coisa que ela disse foi: “só quero ver se vai ler mesmo. Só acredito depois que você começar o primeiro.” Pois bem!! De ontem pra hoje eu já TERMINEI o primeiro. Comecei no final da tarde de ontem e terminei no meio dia de hoje. Era o clássico “O Grande Mentecapto” de Fernando Sabino. Que livro!!!!!! Viramundo é meu herói. Que personagem incrível!!!

Agora minha próxima leitura ainda não escolhi, mas agora só me restam 4: “Pornô Política” (Arnaldo Jabor), “Tudo que eu queria te dizer” (Martha Medeiros), “Entrevistas” (Clarice Linspector) e “Cartas à Mãe – direto do inferno” (Ingrid Betancourt). Enquanto me decido, a certeza é uma só: começo 1 deles ainda hoje!

E como lição de hoje fica: “A inteligência não é uma virtude com que se nasce, é uma virtude que traduz a capacidade de se abrir e criar novas idéias, mudar idéias velhas e repreender velhas convicções, afim de ser e tornar tudo melhor e mais justo baseado na mais complexa rede de raciocínio que desenvolvemos durante todos os momentos das nossas vidas.