Lutar contra si mesmo é uma das batalhas mais duras que pode existir. Não há armas, não há companheiros, não há fuga, não há descanso. Lutar contra seus próprios pensamentos é difícil. É como duas pessoas coexistindo num mesmo corpo. Você não consegue controlar aquela invasão de pensamentos e aquela turbulência de sentimentos. E você começa a se dizer que vai dar tudo certo, que há esperanças. Mas sua cabeça e seu coração as vezes simplesmente não conseguem compreender, acreditar. Por mais que o seu “eu” acredite.
Essa batalha é difícil. Por que é batalha de todo dia, toda noite. Você está bem, se divertindo e de repente, num estalo, seu coração se entristece, sua cabeça começa a criar milhões de raciocínios alucinantes. Você quer parar e não consegue. E então tudo te irrita, porque você está cansado e não tolera mais nenhuma palavra, nenhuma cobrança, não tem mais paciência. Todas suas energias são consumidas pela sua própria mente. Você não quer explicar nada a ninguém, não quer ter mais obrigações por que seu coração já se cobra demais. E quase ninguém compreende o que você está passando. E não há mesmo como compreender, porque tudo isso vem sem aviso, sem motivo. De repente você se sente assim e ninguém pode prever. Então isso acaba magoando, ferindo, afastando as pessoas.
Ser amigo se torna difícil, ser responsável se torna difícil, amar se torna difícil. Você cobra demais dos outros por que algo falta em você mesmo e, ao mesmo tempo, é rude e impaciente com as pessoas.
Depressão me tira o sono. Outro dia rezei para que não houvesse aula. Pra eu poder dormir. De tanto que rezei, Deus teve pena de mim. A aula foi cancelada e eu fui pra casa dormir. Mas foi sono leve, preocupado com a hora, com os compromissos. Quando o dia acabou, não conseguia dormir. Tomei um banho relaxante com sais de banho, óleo corporal. Coloquei essências para relaxar o ambiente, músicas tranqüilas. E foi então que finalmente eu não pensei em nada, não senti nada. Nem sono, é verdade, mas eu dei um tempo para mim mesma. Finalmente. Sem sono, saí pra ver amigos que estavam visitando a cidade. E viramos a noite juntos. Relaxar foi fundamental. Me distraí, ri, me diverti. E foi então, que ao chegar em casa, as 9h da manhã é que consegui dormir profundamente. Só acordei as 17hrs. Me permiti essa preguiça, toda preguiça que existisse em mim. Eu precisava. Mais que nunca eu precisava dormir.
Mas é difícil. Tem horas que é banal. Você olha e não entende por que estava tão chateado com aquela tolice. Mas na hora, quando você sente, o choro vem incontrolável. Imperdoável. São tantos porquês e tantas soluções malucas que você inventa. Você sai do chão. Sua cabeça viaja. Seu coração não tem mais controle. Te domina totalmente.
Eu tento ser paciente comigo mesma nessas horas. Empresto meu ombro, meus ouvidos, minhas palavras de esperança. Sou meu melhor amigo. Deixo tudo vir a tona. E não me permito perder as esperanças. As vezes é mais demorado que outras, mas passa. Quando cansa, passa.
Esportes fazem bem, mas nem sempre satisfaz. Festas, amigos, amores também ajudam, mas não são capazes de impedir que aconteça. Eu posso estar no meio de uma festa, com todos os meus amigos se divertindo. Se ela chegar, não há alegria que espante. Se for fraquinha, eu logo tento dispersar meus pensamentos. Mas quando ela quer vir de verdade, aí não tem como. Minha cara fecha, minha mente viaja e aquilo tudo que parece agradável, parece tão absurdo, tão sem valor, sem sentido. Que raiva que dá! Que loucura esse mundo! Que grande besteira tudo isso!!! Parece tudo errado, vazio. E aí você prefere ir pra casa, onde pode se afastar desse mundo insano que te cerca.
Ou então, quando tudo começa em casa, sair se torna um desafio. Aquele compromisso sempre pode esperar mais um pouco. Outro dia perdi o aniversário de uma amiga enquanto batalhava comigo mesma. E você passa horas em casa, sozinho, sem fazer absolutamente nada. Mas ao mesmo tempo fica cansado, esgotado. Essa guerra é a mais difícil de todas: lutar contra si mesmo. Pensamento contra pensamento. Sentimento contra sentimento. É você tentando se convencer de que está errado. De que as coisas precisam de calma, de esperança, de paciência. De que você precisa ter foco nas coisas, precisa se esforçar mais.
Essa é uma batalha psicológica. Talvez o maior dos paradoxos. Somos doutor e paciente, doença e cura e nós mesmos.